14 de outubro de 2020
Bom dia, estimadas companheiras e companheiros,
Agradeço a oportunidade de poder proferir algumas palavras. Primeiramente, quero dizer que depois da Assembleia Mundial pela Paz, realizada pelo Conselho Mundial pela Paz em São Luís, Brasil, em novembro de 2016, e da qual pude participar, desde aquele tempo até agora, estamos vivenciando momentos ainda mais complexos na América Latina e em todo o mundo.
1 – Temos trabalhado historicamente, desde a fundação da nossa organização, denunciando o nefasto papel desempenhado pelo treinamento militar que os Estados Unidos dão, na Escola das Américas, às tropas de todo o nosso continente. Como vocês sabem, a Escola das Américas foi expulsa do Panamá em decorrência do Tratado Torrijos-Carter. Desde 1984, opera em Fort Benning, Geórgia, EUA.
Desde janeiro de 2001, devido aos intensos protestos e claras denúncias que todos nós fizemos sobre o papel que esta academia militar desempenhou nas violações dos direitos humanos de todos os nossos povos, o Departamento de Estado dos Estados Unidos decidiu que seria melhor mudar o nome para aparentar que a fecharam. Agora é chamada de Instituto de Cooperação e Segurança do Hemisfério Ocidental (WHINSEC).
Um ano depois que isso aconteceu, em 2002, o presidente Hugo Chávez sofreu um golpe de Estado na Venezuela que, felizmente, foi revertido por seu valoroso povo. Em 2010, Manuel Zelaya, em Honduras, foi tirado do governo à força, em consequência de mais uma orquestração golpista. No ano passado, em outubro, Evo Morales também foi forçado a renunciar também devido a um golpe de Estado. Nesses três casos, os responsáveis por trás desses fatos têm sido militares graduados na Escola das Américas, agora denominada WHINSEC.
2 – No 7 de outubro passado, entregamos um relatório, juntamente com outras organizações, à Comissão da Verdade da Colômbia. O relatório é denominado «Do começo ao fim: os Estados Unidos no Conflito Armado Colombiano». Vocês conhecem toda essa história, somente quero agregar que mais de 100 mil tropas colombianas, incluindo policiais e militares, têm sido treinadas pelos EUA nas últimas décadas não apenas na Escola das Américas, WHINSEC, mas em muitas outras academias do império.
A situação na Colômbia é difícil, continuam assassinando a lideranças sociais e ex-guerrilheiros. Manifestamos nossa solidariedade com a Colômbia. Continuamos e continuaremos apoiando os esforços para que se implemente e se mantenha o Acordo de Paz assinado entre as FARC-EP e o governo da Colômbia em Havana, em 2016.
3 – Mudando de tema, quero dizer que nos últimos anos se somaram novas preocupações. Precisamente no Chile, e junto com outras organizações, quero destacar o papel de vanguarda assumido pela Associação de Familiares de Executados Políticos, bem como a atuação da companheira Alicia Lira, no apoio a todas essas causas, além de realizarmos também uma campanha para tornar visível o problema nuclear.
Observamos, com grande preocupação, a retirada dos Estados Unidos de vários tratados de controle de armas nucleares. Entre eles, a retirada do Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF) e o anúncio da saída do Tratado de Céus Abertos e do possível fim do Tratado START 3 ou Tratado de Redução de Armas Estratégicas.
Com tudo isso, os Estados Unidos querem se desfazer de suas obrigações sobre o controle de armas de destruição em massa. Isso é um perigo para o mundo todo porque se os EUA conseguirem quebrar o equilíbrio estratégico que ainda existe entre os países que dispõem dessas armas, essa mesma potência vai querer impor, ainda mais, sua vontade contra nossas nações.
Muitos de vocês assinaram essas campanhas e nós agradecemos. Também Cuba, por meio do seu Ministro Bruno Rodríguez, sublinhou que “a eliminação total das armas nucleares deve ser a maior prioridade na esfera do desarmamento”. Este é um ponto que deve estar em nossa agenda de trabalho devido às perigosas implicações que as armas nucleares têm para toda a humanidade.
4 – Outro tema a que temos nos dedicado é a nossa luta contra as bases militares estrangeiras na América Latina. Neste ponto, quero agregar nossa preocupação com a base naval dos Estados Unidos no Peru, chamada Namru-6, que faz pesquisas sobre doenças infecciosas.
Namru-6 também abriu, recentemente uma «sucursal» dentro da base militar Soto Cano, em Honduras, onde a Força-Tarefa Conjunta Bravo, a maior base militar dos EUA na América Central, opera com um batalhão de mais de 500 fuzileiros navais – marines – dos EUA.
Isso é preocupante porque essas investigações podem ajudar na elaboração de armas biológicas contra nossos povos. Cuba sabe de sobra sobre este assunto.
Finalmente, gostaria de concluir manifestando nossa solidariedade a Cuba. Apoiamos a demanda pela devolução dos territórios ocupados pelos Estados Unidos na base militar de Guantánamo. Além de ser uma base militar ilegal, lá dentro também há uma cárcere onde os prisioneiros são torturados e mantidos sem o direito a um devido processo neste local.
Também nossa solidariedade com o povo do Brasil que não só está passando por um momento difícil pela pandemia e pelas políticas fascistas de Bolsonaro, mas também por seu governo ter assinado vários acordos militares e de subordinação com os Estados Unidos, incluindo o uso da base aeroespacial de Alcântara e o reenvio de tropas para a nova Escola das Américas.
A luta que todas e todos nós damos, neste espaço, é a luta pelo Direito de Viver em Paz que Víctor Jara acertadamente cantou.
Muito obrigado!
Pablo Ruiz
Observatório pelo Fechamento da Escola das Américas
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