Por Pablo Ruiz*
O novo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, terá uma difícil missão que é tentar «normalizar» a relação interna com a maioria dos (e das) cidadãos (ãs) estadunidenses, bem como no âmbito da política internacional.
Donald Trump não só fraturou a «unidade estadunidense» acostumada à alternância de poder entre democratas e republicanos, sem grandes crises ou traumas, mas também, diretamente da Casa Branca encorajou o ódio, o racismo, a supremacia branca, além do distanciamento da diplomacia, em uma porcentagem alarmantemente alta, e com um discurso muito mais violento do que já conhecíamos até o momento.
O governo Biden terá que trabalhar, se quiser, é claro, para construir uma nova narrativa que supere a era Trump, e onde os valores da paz, justiça, democracia, direitos humanos e diplomacia devam estar acima da violência política que tanto foi criticada no ex-presidente Trump quando este governou os EUA.
Na América Latina, o intervencionismo e a militarização estadunidense continua, inclusive poderíamos afirmar que foi até incrementada sob o mandato de Trump pelas mudanças geopolíticas que o próprio EUA favoreceu – para não dizer que eles impulsionaram, financiaram e conspiraram para que chegasse ao poder Jair Bolsonaro, no Brasil; Lenin Moreno, no Equador; Mauricio Macri, na Argentina; Sebastián Piñera, no Chile; cujos países viveram ou vivem governos neoliberais com as consequências desastrosas que podemos ver. Muito menos podemos esquecer o Golpe de Estado na Bolívia, onde o papel de militares treinados na Escola das Américas foi significativo e as diversas tentativas violentas de derrubar o governo legítimo da Venezuela.
Se é verdade que o presidente Biden vem com um novo espírito para governar os Estados Unidos e quer superar o discurso de ódio e de supremacia branca, ele também deveria pôr um fim ao «destino manifesto» e deixar de intervir na América Latina.
Nossas reivindicações permanecem sendo as mesmas:
1 – O fim do treinamento militar e policial das tropas latino-americanas na Escola das Américas ou WHINSEC ou em qualquer outra academia militar estadunidense que continue promovendo a violência e a guerra como meio para resolver os conflitos.
2 – A retirada e o fechamento de todas as bases militares dos Estados Unidos na América Latina, incluindo a base militar em Guantánamo, e onde haja equipamento, armamento, e militares dos Estados Unidos. Os territórios usurpados pelos EUA em Guantánamo devem ser devolvidos a Cuba o quanto antes.
3 – Fechamento de qualquer centro de pesquisa onde possam ser desenvolvidas armas biológicas; entre eles, o Centro de Pesquisa de Doenças Tropicais da Marinha dos EUA (NAMRU-6), localizado no Peru, e que recentemente abriu em Honduras, na base militar de Soto Cano, uma nova sucursal.
4 – O fim da carreira armamentista e nuclear que ameaça a existência de toda a humanidade. Todo o nosso continente deve ser uma Zona de Paz.
5 – O fim da perseguição aos refugiados e migrantes que fogem da pobreza e da violência que têm origem nas mesmas políticas econômicas ou de segurança promovidas pelos Estados Unidos em toda a América Latina.
6 – O fim do muro da fronteiriço. O mundo não precisa de mais muros, mas sim de pontes de solidariedade.
7 – O fim das políticas de sanções, ameaças intervencionistas e ingerencistas em assuntos de outros países. Especialmente contra a Venezuela, onde as sanções econômicas são um verdadeiro crime de guerra e afetam a vida e o desenvolvimento do povo venezuelano.
8 – Respeito à autodeterminação dos povos e respeito à decisão soberana de cada nação do mundo de estabelecer o regime social que livremente determine ter.
Em defesa da paz mundial
Da mesma forma, nos últimos anos, o perigo de uma guerra mundial e da ameaça do uso de armamento nuclear tem sido incrementada pela irresponsabilidade dos Estados Unidos e seu afã de querer impor sua vontade a outras nações.
Nesse sentido, há muita exatidão no que o Embaixador da República Bolivariana da Venezuela no Chile, Arévalo Méndez Romero, destacou tempos atrás, em um encontro em Santiago, na livraria do Le Monde Diplomatique, que : «Os Estados Unidos não respeitam hoje em dia, ou o imperialismo não respeita hoje em dia, os países que não possuam capacidade nuclear».
Aqui está o exemplo da Coreia do Norte que obrigou o mesmíssimo ex-presidente dos EUA, Donald Trump, a «conversar» e o ataque de resposta do Irã a uma base militar dos EUA no Iraque.
Por conseguinte, é muito importante que os EUA respeitem o direito internacional e a autodeterminação dos povos.
Na política internacional, os EUA devem retomar diversos tratados para o controle e a não proliferação de armamento nuclear. Neste sentido, Joe Biden deu um passo significativo, recentemente, ao chamar o presidente da Federação Russa, Vladimir Putin, e renovar o Tratado Start 3 para a limitação de armas nucleares estratégicas.
No entanto, deve-se lembrar que Trump retirou os EUA do Acordo Nuclear com Irã, provocou também a saída do tratado INF (pelas siglas em inglês – Intermediate-Range Nuclear Forces) com a Federação Russa, do Tratado de Céus Abertos, e causou um distanciamento significativo com a Europa, e especialmente com a Alemanha, onde o cientista político Christain Hacke, em seu artigo «Por que a Alemanha deveria obter a bomba», sublinhou que «a questão da obtenção de armas nucleares para os alemães será uma questão de segurança nacional».
Por tudo o que foi exposto anteriormente, é indispensável voltar à diplomacia, retomar as relações com Cuba, com a Venezuela, voltar ao Acordo Nuclear com o Irã, respeitar a Coreia do Norte, se retirar da Síria, ter boas relações com a China e a Rússia, e continuar avançando nas negociações com todos os países do mundo para a não proliferação de armamento nuclear, bem como traçar uma rota para a eliminação total do armamento existente.
O mundo estaria melhor, se convivêssemos em paz, com respeito à autodeterminação dos povos, com diplomacia e não com a brutalidade e a ameaça do mais forte.
* Pablo Ruiz, é membro do Observatório para o Fechamento da Escola das Américas